Talvez você já tenha ouvido falar nele em algum momento… talvez até mesmo seja um dos que o seguem, por curiosidade ou por acreditar que ele realmente pode mudar os rumos do seu negócio. O “guru do marketing” é um desses personagens folclóricos da internet. Alguns não acreditam nele, outros até pagam promessas na expectativa de um milagre alcançado. Alguns preferem não expor sua crença, mas estão lá, religiosamente, batendo ponto em todas as lives, “master classess” e cursos. Outros já foram tão envolvidos pela evangelho do “guru do marketing” que o propagam como se fosse “o caminho, a verdade e a vida” para a prosperidade universal. Ainda que, se você parar para pensar bem, vá ter dificuldade de pensar em um único negócio real que alcançou perenidade, crescimento e sucesso a longo prazo com base nos ensinamentos do autoproclamado messias.

Mas não vamos colocar o carro na frente dos bois.

Afinal, quem é mesmo o “guru do marketing”?

Esta entidade que cada vez ganha mais seguidores é um homem branco, na faixa dos 40 anos, ele usa barba (aparada na régua), frequenta a academia (afinal, o sucesso nos negócios começa pelo autocuidado), e é um marido exemplar, a propósito, ele tem o casamento dos sonhos. Sua parceira é uma influencer, modelo ou atriz classe B, muito bonita e extremamente apaixonada. Ao contrário dele, que é um homem focado, energético e multitasking, ela é mais tranquila, zen, good vibes, gosta de terapias alternativas, defende a causa animal e emana uma energia altruísta. Juntos, são um casal ao estilo resort da revista Caras.

Não me entenda mal, não estou falando de pessoas específicas, o que estou tentando traçar aqui é uma persona que represente o personagem deste texto. No entanto, qualquer semelhança com indivíduos da vida real que você já tenha visto por aí pode não ser mera coincidência.

Adiante.

O que o que “guru do marketing” promove?

Esta pessoa, que a partir daqui chamaremos apenas de “guru”, tem uma vida invejável. Segundo ele, essa vida é herança de trabalho duro por anos, centenas de horas de estudo e, claro, coragem. Muita coragem. Para fazer o que ninguém mais fez. Para investir tempo e grana e colocar em prática tudo o que só ele sabe e gostaria de, generosamente, compartilhar com você. Até porque, como ele é rico e tem a vida feita, não precisaria disso. Tudo a preço de banana. Apenas 12 x 99,90 e você terá o futuro garantido. Basta querer e, claro, ter coragem. Para investir. E aí, é certo, você vai mudar de vida.

O guru te ensina fórmulas para potencializar o seu negócio. Tudo o que ele realizou para potencializar o próprio negócio (que, na maior parte das vezes, resume-se a sua própria imagem, sem um background com outras empresas grandes por trás) acessível na ponta dos seus dedos dentro de um ambiente na Hotmart. Ele vai te ensinar caminhos, estratégias, técnicas, gatilhos, vai te dar informações privilegiadas e vai te fazer acreditar que, com tudo isso, é praticamente impossível que o seu negócio não decole rapidamente.

O que o guru pode não te contar é que na maioria das vezes, ele teve uma dessas duas condições, que foram fundamentais para o sucesso dele e sem as quais a chance de você, pessoa normal, chegar ao mesmo patamar que ele ostenta são praticamente nulas – sem querer te desanimar, mas sejamos realistas. Ele teve a ajuda decisiva de outra pessoa, que o potencializou, ou já tinha muito dinheiro (de família) antes mesmo de começar a construir qualquer negócio. Ou ambas as condições. Essa, no entanto, não é a única falha de caráter do guru, nem o único motivo que me faz desaprovar a sua conduta.

Por que eu não gosto do “guru do marketing”?

Além do fato do guru, na maior parte das vezes, fazer um oversell de si mesmo (ou seja, vende-se de uma forma que não corresponde à realidade dos fatos) eu também não o acho um cara honesto por outras razões.

A primeira delas é que ele faz parecer que a solução que ele vende vai resolver integralmente o seu problema quando, na verdade, cem por cento das vezes, no máximo ele tem uma ferramenta que pode ajudar a potencializar um único aspecto do seu negócio, mas que se nada servirá se outros aspectos do marketing e do negócio em si não estiverem alinhados para receber essa ferramenta.

Ou seja, na prática: não adianta descobrir uma forma de atrair clientes mais facilmente se o seu produto não é bom o bastante para converter; não adianta saber o gatilho certo para despertar o desejo pela conversão se a sua marca não comunica o real objetivo do produto, dificultando que as pessoas cheguem até você; não adianta saber comunicar perfeitamente o seu produto e a solução que ele oferece se sua operação não está preparada para os efeitos disso.

O segundo motivo pelo qual eu não acho o guru honesto é porque ele vende marketing como uma solução universal e coletiva, um mesmo curso, um mesmo ensinamento é capaz de resolver o problema de milhares de pessoas e negócios. Em nenhum cenário isso pode ser verdade. Isso porque o marketing só pode ser efetivo se for desenvolvido de forma individualizada, com análises e estudos focados na realidade do negócio em questão.

Não há garantia de que uma solução que funciona para um negócio X funcione igualmente para um negócio Y, e spoiler, a chance de funcionar é realmente muito menor do que a chance de não funcionar. Isso porque cada negócio é um universo diferente, com produtos e serviços diferentes, clientes diferentes, geolocalizações diferentes e, principalmente, pessoas com históricos diferentes à frente.

Por fim, eu não acho o guru um cara honesto (e consequentemente não gosto dele) por que ele se coloca em uma posição de salvador e te vende o que pode ser a verdadeira solução dos seus problemas, quando na verdade, ele sabe que você não vai alcançá-la, pois ele não compartilha o verdadeiro pulo do gato.

Ele sabe que uma ferramenta não vai te fazer faturar 6 em 7. E caso faça, é porque você, individualmente, tinha todas as habilidades necessárias para moldar essas ferramentas que ele te vendeu à sua realidade. Provavelmente você teve uma boa educação, seja sagaz acima da média, tem boas habilidades interpessoais, entre outras características que pouquíssimos dos que compram a solução do guru do marketing têm, de fato. Estes, portanto, serão apenas engrenagens na manutenção do sistema do guru.

Não há como dizer que uma pessoa esperta como o guru do marketing não sabe de tudo isso. Ele só escolhe te prometer o que não vai cumprir, ainda assim. Mas não se sinta mal, quem detém todo o conhecimento dessa operação é ele, o guru, e mesmo sabendo de tudo isso, ele escolhe não apenas te fazer promessas impossíveis como manipular a sua mente com palavras de efeito e estratégias de venda poderosas, as quais ele domina muito bem.

Como não cair da lábia do “guru do marketing”?

Se você chegou até aqui, provavelmente esteja se perguntando: mas será mesmo que todos aqueles perfis que sigo são “gurus do marketing”? Como saber se devo ou não confiar em algum deles? Abaixo, seguem algumas dicas que podem te ajudar:

1. Fique atenta às credenciais do vendedor. Qual o background da pessoa? Ele(a) tem formações em marketing e um currículo robusto no mercado de trabalho? Ou sua única validação é o número de seguidores nas mídias sociais? Esse pode ser o primeiro alerta.
2. Atente-se também se o vendedor te vende uma ferramenta, ou se ele te vende a solução de todos os seus problemas por meio dessa ferramenta. Uma ferramenta pode ajudar em alguns aspectos pontuais do negócio, e isso precisa ficar claro em uma venda honesta, mas se o cara tenta vendê-la como um aspecto decisivo para o seu faturamento ou mesmo para o seu sucesso, com certeza tem algo de errado.
3. Por fim, verifique o portfólio do vendedor e as provas de valor do seu trabalho. Não apenas as que ele insere no próprio site, mas depoimentos proativos de pessoas verdadeiras que, se o cara for bom de verdade, não serão difíceis de serem encontrados no Google ou nas mídias sociais. Afinal, como diz o verdadeiro guru do marketing, Philip Kotler, “A melhor propaganda é feita por clientes satisfeitos.”

E se alguém tentar te vender uma solução instantânea e imediata em marketing, tenha em mente a seguinte frase, a mais assertiva que já li sobre o assunto:

“Marketing não é um evento, mas um processo. Ele tem um começo, um meio, mas nunca um final, pois ele é um processo. Você melhora, aperfeiçoa e até interrompe, mas nunca para o processo completamente.”

Jay Conrad Levinson